DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE
Em 5 de junho de 1972, marcando o início da Conferência de Estocolmo, na capital da Suécia, foi instituído o Dia Mundial do Meio Ambiente pela Organização das Nações Unidas (ONU). São 50 anos desde a primeira grande reunião global com chefes de estado discutindo medidas de preservação ambiental e climática. A data, longe de ser uma celebração, é um lembrete aos desafios para adaptar nossos modos de vida a um planeta em sobrecarga.
EVENTO COM PACTO GLOBAL – RESPONSABILIDADE CORPORATIVA E COP 30
Como membros signatários do Pacto Global da ONU desde agosto do ano passado, na última segunda-feira dia 3, participamos do evento Semana do Meio Ambiente: Responsabilidade Corporativa Ambiental – Impacto e Transformação. No Museu da Língua Portuguesa, o encontro foi conduzido por Cris Guterres, jornalista e Conselheira do Movimento Conexão Circular do Pacto Global (do qual fazemos parte nas suas duas frentes de trabalho).
Cris recebeu mulheres líderes de empresas e instituições que atuam como articuladoras nas pautas socioambientais que trouxeram falas elucidativas sobre os principais assuntos do dia, entre eles, a COP 30 (Conferência das Partes ou Conferência do Clima), que será sediada no Brasil em 2025.
No discurso de abertura, Cris destaca o negacionismo como força contrária a compreensão e assimilação da responsabilidade coletiva sobre a preservação dos recursos naturais. A data, segundo a jornalista, é um convite para pensar e agir. Ela lembra da rede criada pelo Pacto, mobilizando o setor empresarial em prol da sustentabilidade a partir das suas Plataformas de Ação e Movimentos, como: Ambição Net Zero, que trata da redução de emissão de gases de efeito estufa; Mais Água, que olha para a gestão sustentável dos recursos hídricos e para soluções de saneamento básico; Conexão Circular, propondo a diminuição dos resíduos e otimizando materiais; Impacto Amazônia, o movimento mais recente para proteger floresta e populações originárias.
A ideia de todo esse trabalho, espelhado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os ODSs, é “enxergar justiça para todo mundo”.
PRINCIPAIS PONTOS DE VISTA DAS PALESTRANTES
No primeiro painel, Camila Valverde, Diretora de Impacto do Pacto Global, lembra da proximidade da COP 30 que já conta com 259 empresas engajadas, salientando a oportunidade de aceleração do trabalho de mitigação dos impactos de organizações responsáveis. Lembrando da complexidade do contexto ela afirma: “O clima tem braços e pernas que podem ser somados para gente avançar coletivamente”.
Verônica Sanches, Diretora da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), acrescenta um ponto de vista essencial: “quando falamos de água, falamos de vida, a água transcende e aqui no Brasil temos uma condição única de disponibilidade hídrica e escassez ao mesmo tempo. Por isso, precisamos tratar o assunto com relevância ”.
Também citou o Programa Produtor de Águas, há 10 anos promovendo práticas conservacionistas complementares como preservação de águas, proteção de matas ciliares e permeabilidade do solo. De acordo com Verônica, regiões inundadas pela enchente no Rio Grande do Sul apoiadas pelo programa sofreram donos menores. Com o Pacto, a ANA, assinou um novo protocolo de intenções fortalecendo a agenda da água rumo à COP 30.
Karen Oliveira, Diretora de Relações Não Governamentais da The Nature Conservancy (TNC) ressalta o simbolismo presente no evento com a presença apenas de mulheres em posições de liderança e que “estamos num caminho do Rio à Belém”, lembrando da ECO 92, conferência no Rio de Janeiro que deixou princípios que ao longo dos anos vem sendo implementados. Ela acredita que ainda é pouco abordado o Marco Global da Diversidade Biológica (2022) e declara a parceria como grande aliada no processo de adaptação em tempos de novos paradigmas: “o Pacto é traduzido numa grande parceria entre todos: Governo, Universidade, sociedade civil e organizações.”
“Quando olhamos o tamanho da conta, são 970 bilhões de dólares até 2023 para conter a perda de biodiversidade. A conta de clima é maior ainda, têm cálculos que chegam a 5 trilhões de dólares. Não dá pra fazer isso sozinho, precisamos de uma ação conjunta e de financiamento, que é item chave e tema que deve ser trabalhado. Todos precisaremos ser criativos para fazer acontecer”.
Ela aposta em soluções baseadas na natureza para enfrentar a crise climática e a perda da biodiversidade, ancoradas na tecnologia e em processos sistêmicos. Para COP 30, pede para evitar a lógica de “projeto isolado” e para que seja traçado um planejamento integrado para que as soluções discutidas tenham chances de implementação.
Rebeca Lima, Diretora Executiva CDP Brasil, conta que antes do Acordo de Paris (2015) majoritariamente as discussões climáticas concentravam-se no Estado. “Quando se inicia a discussão de implementação, não são países sozinhos, mas os atores principais para a ação, o setor privado, é chamado para a discussão. Hoje o setor privado tem um papel oficial e reconhecido pela ONU no enfrentamento das mudanças climáticas, não só na mitigação e monitoramento, mas nas de ações de adaptação, inovação, pesquisa e desenvolvimento, alinhados à Ciência.”
PASSOS: ESTABELECER PARCERIAS E DEFINIR PAUTAS
Em seguida Ana Toni, Secretária Nacional de Mudança do Clima, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, pede maturidade para a preparação e atuação na COP brasileira e o quanto é emblemático que ela aconteça no coração da Amazônia, o que gera alta expectativa global. Ressaltou como a decisão do Governo de abrir as portas da casa nos coloca na frente do mundo como um grande provedor de soluções climáticas em diversos setores e que podemos ser um país que lidera pelo exemplo.
Ana também lembra da necessidade de foco na seleção das pautas para mais chances de sucesso. “Se a gente encarar a COP como um evento, a gente errou. A COP é um processo e não uma festa ou uma expo. É ótimo, mas não é ali que vamos mitigar GEE (gases de efeito estufa), não é ali que os programas de adaptação acontecem. É antes e depois. Precisamos de muita consciência do que queremos dessa nossa COP. E quais os legados que esperamos com ela. O que o setor privado espera da COP 30? Temos que fazer essa reflexão agora e trabalhar as nossas prioridades sabendo dos instrumentos da COP que são as negociações. Temos metas e temas importantes como plano de trabalho global para transição justa e articulação financeira”, salientou.
E mais uma vez traz a “parceria” como fundamento para o sucesso. “Política climática não se faz mais em gabinete. Se faz dialogando com o setor privado, comunidades, sociedades, ministérios. Dá uma trabalheira do cão, porque é muita gente participando. É um tema que virou transversal e que precisa ser transversal”.
“Há 50 anos trabalhamos esse tema e a gente não resolveu o problema. Ao contrário, o problema está se agravando. Não é que estamos parados, mas não estamos conseguindo resolver. O que precisa acontecer para a gente acelerar? Não é uma escolha. Temos que fazer! Uma das razões é ter escala, é a falta de espaços colaborativos. Quando se entra no tema de bens comuns globais vamos precisar de colaboração.”
Além desse primeiro momento arrematando os principais pontos de debate do dia, ouvimos sobre o Movimento Impacto Amazônia e empresas liderando movimentos e frentes de trabalho com o Pacto Global. Com uma agenda cada vez mais complexa e urgente, ficou evidente como a união de diversos atores e instituições será o caminho para a realização de planos e metas de transformação positiva.